EM CADA LÁGRIMA DE DOR, O BRILHO DA ESPERANÇA
Seria
muito fácil dizer que um dia pensaram em Caps e ... Plim! Eureca! Apareceu!
Seria
fácil demais falar que o Caps surge como um serviço substitutivo de uma hora
para outra. Perfeito, mediante uma ideia genial, magnífica e perfeita de uma
equipe de super-heróis agraciados por super-poderes da reforma psiquiátrica.
Mas
a verdade é que não há nada de super-heroísmo, nem de instantâneo, muito menos
de perfeito. Tanto a reforma psiquiátrica quanto o Caps, que é um de seus
resultados e um grande resultado, foram configurados, construídos, idealizados,
batalhados, trabalhados, ... (e o verbo que cada teoria quiser usar, que
indique um processo). Aliás, foram, são e tenho fé e desejo de que continuarão sendo realizados.
Galera!
A situação não está fechada, esgotada. E o que se encontra hoje de resultados
não apareceram e ... abracadabra... plim! simplesmente. Tudo leva-se tempo e suor. A Psiquiatria é referida como jovem, se
for basear por Pinel; tem por volta de 200 anos. No Brasil, a Reforma conta da
década de 70 para cá.
Estamos
acostumados (me incluo demais aqui) a admirar nossos escolhidos mestres ou
exemplos profissionais somente como mestres ou exemplos profissionais. Quero
dizer que nos esquecemos de que não nasceram assim, de que também sofreram e
sofrem processos.
E
se por acaso, acontece um engasgo, um mal-estar, alguma tristeza, indignação,
raiva, compaixão, dó, revolta por depararmos com ações que representam e
materializam um hospício, um sanatório, um hospital geral, um horror do
passado, um contrassenso com o que aprendemos, com o que acreditamos, com o que
habitamos no peito, lembremos do processo. Lembremos da ausência de mágicas, da
humanidade de cada trabalhador da vinha da reforma psiquiátrica.
Aliviemo-nos,
porque esta náusea expulsa de dentro de nós a possibilidade do modelo de padronização
de um fajuto cuidado. Expulsa de dentro das vísceras a possibilidade de nos
orientar pelas hierarquias do poder verticalizado, de nos orientar pela sedução
das vaidades dos cargos e aplausos em detrimento do mais importante: O SER
HUMANO, em especial, o usuário dos nossos serviços.
Por
isso, ALEGRIA, ainda que estranha ou às avessas. COMEMOREMOS a possibilidade de
também trabalharmos em pró da reforma. E não importa o quão homeopáticas sejam
estas doses de trabalho, pois é com o respeito aos limites de cada adoecimento
é que plantamos as sementes de saúde.
Se
preciso for, sejamos a própria esperança resiliente e verde em um matagal sem
vida e sem cor. Sejamos a esperança água, a esperança adubo, a esperança
jardineira, a esperança cuidado, ... a própria realização de flores e frutos e flores
e frutos e flores e frutos.
Enquanto
isso, como diz, lembro-me com carinho, a mestra Bárbara, “reguemos o vínculo”
e, modificando um pouco, “reguemos também a esperança”.
Lillian Naves